O suicídio é um dos temas mais cercados de confusões e preconceitos ao longo da história. Nas diversas religiões, é tratado com um grande “pecado”, impondo uma grande culpa àquele que sequer cogita tirar a própria vida. Convertido em tabu, é também um dos assuntos que as pessoas mais tem dificuldade de falar, reduzindo as possibilidades de ajuda. Foi para mudar essa situação e a OMS (Organização Mundial da Saúde) instituiu em 2003 a data de 10 de setembro como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Na esteira dos esforços para desmistificar o problema, surgiu em 2015, a campanha Setembro Amarelo, uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Centro de Valorização da Vida (CVV).
Porque um mês amarelo?
Em apenas 5 anos, a campanha Setembro Amarelo já se tornou tradicional entre os meses coloridos, como a do Outubro Rosa e Novembro Azul. A cor teve origem a partir do suicídio de um jovem americano chamado Mike Emme, que em 1994 se matou dentro do seu ford Mustang amarelo, deixando um bilhete para sua família. Mike foi um desses muitos casos onde a pessoa aparenta viver na mais absoluta normalidade. A cor viva e vibrante com a qual pintou seu carro foi usada por amigos e familiares em cartões e fitas de homenagem ao jovem, tornando-se, com o tempo, um símbolo de luta e conscientização sobre o problema em todo o mundo.
Por que alguém comete suicídio?
O tema é cercado de mitos, que precisam ser combatidos para revelar as verdadeiras causas do problema. As estatísticas apontam que quase 100% dos pessoas que cometem suicídio sofriam de transtornos mentais não tratados adequadamente ou sequer conhecidos. Problemas como estresse, depressão, transtorno de ansiedade, bipolaridade e síndrome do pânico geralmente estão associados à maioria dos quadros de ideação suicida. São doenças que acarretam mudanças químicas e fisiológicas no organismo do indivíduo, com diversos sintomas como cansaço, insônia ou sono excessivo, dificuldade de concentração, perda de apetite, tristeza recorrente, fraqueza, culpa e desesperança, entre outros.
A OMS afirma que as doenças mentais já são a segunda maior causa de afastamentos do trabalho em todo o mundo, caminhando para se tornar rapidamente a primeira. Vivemos um estilo de vida que valoriza cada vez mais a eficiência, a produtividade e expectativas irrealistas sobre si e sobre os outros. O índices de óbitos por suicídio entre os homens são três vezes maiores entre os homens do que entre as mulheres. Isso está associado a uma mentalidade masculina que está associada a força e independência, que dificulta a procura de ajuda.
Além das doenças mentais, também aumentam os fatores de risco as doenças clínicas não psiquiátricas, como câncer, HIV, parkison, epilepsia, entre outras, e situações como desemprego, perdas recentes, abusos físicos ou psicológicos e abuso de substâncias como álcool e outras drogas. Na prática, certas doenças exigem tratamento por toda a vida e para que isso ocorra é necessário que se encare o problema com a seriedade que ele possui, sem preconceitos ou imposição de culpa de nenhuma forma.
Qual a melhor forma de combater o suicídio?
Setembro Amarelo traz também uma oportunidade de falar abertamente sobre as doenças mentais, que ainda hoje sem encaradas como “frescura”. Entre os principais mitos e tabus sobre o suicídio é o de que a pessoa que pensa nessa alternativa é fraca, não quer se ajudar ou está de “mimimi”. Estima-se que 17% de todas as pessoas pensam e se matar pelo menos uma vez durante a vida, e para elas de nada adianta ouvir que “há pessoas com problemas maiores”, que isso é “falta de oração” ou que devem “ocupar a mente”. É o preconceito que torna o suicídio um problema silencioso. Existe a crença que falar sobre o assunto pode estimular ou agravar esse quadro, mas a realidade é justamente o contrário.
Diversos estudos mostram que quanto mais laços sociais um indivíduo possui, menor é sua chance de cometer suicídio. Isso explica, por exemplo, o índice de morte entre mulheres ser muito menor entre os homens. Falar sobre os próprios sentimentos ainda é o primeiro e mais importante passo. O que exige também desenvolver nas pessoas uma escuta mais qualificada. Reproduzimos abaixo algumas ideias da instituição Samaritans para apoiar alguém com pensamentos suicidas. Caso seja você mesmo que esteja passando por esse problema e ainda não se sinta seguro para falar pessoalmente com alguém conhecido, ligue para o CVV no número 188. O serviço funciona em todo o país. A Tríade também possui uma equipe multidisciplinar capaz de fornecer todo o suporte profissional necessário, tratando tanto os aspectos psicológicos quanto químicos das doenças associadas aos riscos de suicídio, como a depressão. Conte com a gente!
Dicas para conversar com uma pessoa com pensamentos suicidas
- Escolha um local tranquilo e reservado, onde a pessoa sinta-se confortável.
- Reserve tempo suficiente para conversar sem pressa e sem interrupções.
- Se você disser a coisa errada, não entre em pânico; não seja duro demais consigo mesmo.
- Foque na outra pessoa, faça contato visual, ponha o telefone de lado – dê sua atenção total à outra pessoa.
- Seja paciente, podem ser necessárias várias tentativas até a pessoa estar pronta para se abrir.
- Use perguntas abertas que precisam de respostas que sejam mais do que um sim ou um não.
- Não sinta que precisa preencher todos os silêncios com conselhos e com palavras: às vezes a pessoa está tomando coragem para falar e precisa de um tempo.
- Não interrompa ou ofereça uma solução para todos os problemas, o importante é ouvir.
- Não empurre suas próprias ideias sobre como a pessoa deve estar se sentindo.
- Verifique se a pessoa sabe onde e como obter ajuda profissional.