O implante coclear é um dispositivo implantado diretamente na cóclea, que é o órgão da audição, e que na presença de um som, estimula eletricamente as terminações nervosas do nervo auditivo que se inserem nas paredes da cóclea. Ele tem dois componentes: o Interno (fio de eletrodos e receptor-estimulador) e o externo (processador de fala, microfone, antena e cabos).
O fio de eletrodos que faz parte do componente interno é colocado na cóclea durante uma cirurgia, que dura em torno de 3 horas. A sua ponta, que tem o receptor-estimulador, fica sob a pele na região do osso temporal da cabeça, local em que é feita a incisão na cirurgia.
O componente externo é adaptado de 1 mês a 1 mês e meio depois da cirurgia, quando então o implante é acionado. Uma parte do componente externo se chama processador de fala, ele pode ficar inserido em uma caixa como a de um aparelho auditivo do tipo retro-auricular ou ficar inserido em uma caixa do tamanho de um celular preso por um cinto na cintura, no peito ou nas costas da criança. Os profissionais da equipe responsável pelo implante é que determinam junto com a família qual dos dois tipos de processador de fala é o mais indicado para cada um.
Outra parte do componente externo é o microfone, que capta os sons. O microfone fica acoplado ao processador de fFala se este for do tipo caixa de aparelho retro, ou fica acoplado a uma caixa de aparelho retro atrás da orelha da criança e este por sua vez se conecta através de um cabo ao processador de fala que está na cintura da criança. Há também externamente uma Antena que se prende através de um ímã ao receptor-estimulador que está sob a pele na região do osso temporal.
Quando o implante é acionado, faz-se o mapeamento dos eletrodos que estimularão as fibras do nervo auditivo dentro da cóclea, a partir deste momento a criança já passa a escutar e faz-se necessária a terapia fonoaudiológica com ênfase no desenvolvimento das habilidades auditivas, da linguagem oral e da fala. O fato da criança já ter sido usuária de aparelhos auditivos garante que a estimulação das fibras do nervo auditivo tenham ocorrido e não tenha havido atrofia das mesmas, assim como garante que as regiões do cérebro responsáveis pelo processamento dos sinais auditivos tenham sido estimuladas. Mas com o uso do implante ela terá que reaprender a ouvir já que os estímulos oriundos do aparelho são diferentes dos oriundos do implante, por isso a importância da terapia fonoaudiológica.
Os mapeamentos acontecem nos acompanhamentos que são repetidos regularmente (a cada mês, a cada três meses) até que se chegue a um mapeamento mais definitivo para a criança e seu limiar, o que se dá ao redor de um ano de uso. A troca de informações entre os fonoaudiólogos responsáveis pelos mapeamentos e os fonoaudiólogos terapeutas das crianças é imprescindível, já que muitos dos ajustes nos mapeamentos podem ser feitos com base nas observações que são feitas durante as sessões de terapia.
O Ministério da Saúde estabeleceu, em 1999, através de uma portaria, os critérios para indicação do Implante Coclear em crianças. Os centros devem seguir estes critérios, mas também têm as suas particularidades, por isso é importante consultá-los para se saber mais detalhes.
Basicamente, são candidatas crianças com perdas severas (a partir de 1 ano de idade) ou profundas (a partir de 6 meses de idade) que não têm respostas ou benefício com aparelhos auditivos. Para estas crianças, o fato de terem usado os aparelhos lhes dá uma condição propícia a mais para o aproveitamento do implante, que é o fato de terem tido estimulação das vias auditivas. São candidatas também as crianças com as condições citadas acima que tenham uma família envolvida e motivada para o uso do Implante Coclear e que tenham na cidade em que moram condições adequadas de reabilitação.
Os objetivos da definição dos critérios é procurar garantir que o implante seja realizado na criança que possa obter dele o melhor resultado possível, que valha o risco da cirurgia e o alto custo da mesma.
Quando estes critérios são respeitados, quando o procedimento cirúrgico é realizado com sucesso, quando a criança freqüenta um bom programa de reabilitação auditiva e quando a família se envolve com todo o processo, são obtidos bons resultados em termos das respostas auditivas e do desenvolvimento da comunicação oral das crianças.
Em nossa experiência, temos observado que as crianças aproveitam muito bem a qualidade do som que o implante oferece e que desenvolvem mais rapidamente as habilidades auditivas, necessárias para uma boa aquisição e desenvolvimento da linguagem oral. Este fator tempo é um grande aliado, já que previnem-se as conhecidas defasagens em termos de linguagem e, às vezes, até em termos cognitivos de crianças deficientes auditivas e seus pares ouvintes.
A Figura 1 mostra todos os componentes do implante já adaptado ao paciente.